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abre quimicosConvidados prestigiaram o evento na noite da última segunda-feira no Plenário Tereza Delta. Foto: Oscar Jupiraci.

Na noite do último dia 19, segunda-feira, foi comemorado o 36° aniversário da eleição da diretoria pró-CUT do Sindicato dos Químicos do ABC na Câmara Municipal. A solenidade foi presidida pelo vereador Ferrarezi (PT) e realizada nos termos da Resolução n° 3.174, de 30 de agosto de 2018, de autoria do próprio vereador. Na ocasião, também celebrou-se o 80° aniversário do Sindicato dos Químicos do ABC.

Compuseram a mesa de honra: vereador Ferrarezi; Luis Fernando, deputado estadual (PT); Raimundo Suzart, presidente do Sindicato dos Químicos do ABC; Jose Freire da Silva, coordenador da Central Única dos Trabalhadores (CUT) para a região do ABC; Paulo Caires, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT; José Drummond, integrante da chapa que venceu a eleição de 1982 da diretoria do sindicato e Brás Marinho, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) em São Bernardo do Campo.

Durante seu pronunciamento, Ferrarezi agradeceu a possibilidade de fazer a honraria ao sindicato; citou um pouco da história dele, que foi feita de lutas, vitórias e confrontos. “O sindicato vê o trabalhador além da fábrica, vê o trabalhador como um ser humano completo que precisa ser atendido em todas as suas necessidades”, comentou o vereador.

ferrarezi quimicos“Nossa responsabilidade é muito grande. Temos que nos cobrar muito mais. Ser história não é apenas ficar assistindo”, destacou Ferrarezi. Foto: Oscar Jupiraci.

Destaques

mosaico discursosBrás Marinho, Paulo Caires, Jose Freire (acima), Jose Drummond, Luiz Fernando e Raimundo Suzart (abaixo) discursaram para agradecer a oportunidade e contaram um pouco sobre a história do Sindicato dos Químicos. Fotos: Oscar Jupiraci.

musico quimicosMúsico Otaviano participou da sessão com suas canções. Foto: Oscar Jupiraci.

homenagens quimicosMembros atuais e ex-dirigentes do sindicato receberam homenagens. Foto: Oscar Jupiraci.

Um pouco de história

O Sindicato dos Químicos do ABC, anteriormente conhecido como Sindicato dos Operários em Produtos Químicos e Similares de São Bernardo, surgiu no dia 08 de outubro de 1938, com a primeira sede localizada em um sobrado na Rua Bernardino de Campos, nº 15B, no centro do município de Santo André.

Nesta época, com o incipiente processo de industrialização do país e poucos investimentos no setor químico, os trabalhadores, imigrantes em sua maioria, vinham do campo com pouca ou nenhuma experiência na vida urbana fabril, mas traziam em sua bagagem uma experiência sindical combativa.

O perfil da classe operária se modificou com a proibição de entrada de novos imigrantes feita por Getúlio no início dos anos 30. Nesta época, a categoria dos químicos ainda era pequena e dispersa.

No início dos anos 40, o Sindicato dos Químicos do ABC se restringia exclusivamente aos operários da Rhodia. A direção não tinha funcionamento regular e era pouco combativa.

Com a Segunda Guerra Mundial, as condições de trabalho tornaram-se piores. A Lei do Esforço de Guerra identificava qualquer movimento grevista como “tentativa de sabotagem”, e a ausência no trabalho era vista como deserção, o que representava para os operários um regime de trabalho militarizado. Mesmo assim, estes organizaram um movimento de resistência contra as más condições de trabalho e de salário.

Em 1945, as reivindicações represadas nos anos anteriores vieram à tona e o descontentamento eclodiu numa onda de greves de proporções inéditas para a época. O movimento sindical cresceu, surgindo então o MUT (Movimento de Unificação dos Trabalhadores) que, apesar de ter durado pouco tempo, deixou clara para os trabalhadores a necessidade da criação de uma central sindical que unificasse as lutas. No ano seguinte, tentou-se organizar a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), que logo foi fechada pela polícia.

Em 1947, o Partido Comunista Brasileiro, organizador e dirigente da maior parte das manifestações operárias no pós-guerra, com forte presença na vida sindical do ABC, foi colocado na ilegalidade e cento e quarenta e três sindicatos em todo o país sofreram a intervenção do governo Dutra.

Neste período, o Sindicato dos Químicos era liderado por Lúcio Carmignole. A situação política no ABC era cada vez mais difícil, com vários sindicatos da região sob regime de intervenção. Mesmo assim, na década de 40, contando com pouco apoio e dificuldades de toda ordem, os trabalhadores da Rhodia fizeram greve durante quinze dias.

Em 1951, Antônio Gouveia assumiu a presidência do Sindicato. Logo após, em março de 1953, os têxteis de São Paulo lideraram uma greve contra a carestia generalizada, a qual chegou a atingir 300 mil trabalhadores. Neste movimento, os piquetes de greve paralisaram os altos fornos da Cerâmica São Caetano. A mobilização deu origem, poucos meses depois, ao Pacto de Unidade Intersindical (PUI).

Em 1955, Trajano José das Neves venceu as eleições do Sindicato, mas, acusado de ser comunista, foi impedido de assumir o cargo. Nesta época, a simples suspeita de que um líder pudesse organizar as reivindicações da categoria era pretexto para o Ministério do Trabalho intervir no Sindicato, o que de fato aconteceu, tendo o ex-presidente Antônio Gouveia recebido o posto de interventor.

Mas a situação política e econômica nacional começou a mudar. Com a posse de Juscelino Kubitschek, a instalação das montadoras e a construção da via Anchieta, o ABC foi palco de um aumento acelerado dos investimentos no parque industrial, inclusive na indústria química. Ao mesmo tempo, as lutas operárias, que cresciam desde 1952, conquistaram maior espaço na cena política.

Em 1956, a intervenção terminou e Trajano tomou posse, começando sua trajetória como presidente do Sindicato que perdurou por mais de dez anos.

Em 1957, em uma nova onda de protestos, 500 mil trabalhadores entram em greve em todo o Estado de São Paulo. A direção do movimento foi assumida pelo PUI, que articulou mais de cem sindicatos de várias categorias. No bojo desta luta, surgiu a Federação dos Químicos de São Paulo, dirigida por Francisco Floriano Desen, militante comprometido com as reivindicações da categoria e dos trabalhadores.

Em 1959, eclodiu uma memorável greve na Rhodia, que durou vinte e nove dias. Começou no setor de produção de acetona e se estendeu por toda a empresa. A reivindicação principal foi um pedido de aumento nos salários de todos no valor de Cr$ 4,00 por hora. A empresa iniciou as negociações com uma oferta de Cr$ 1,50 por hora.

Foi organizada uma comissão de greve com operários de diversos setores da empresa. Várias passeatas foram realizadas no centro de Santo André. Grevistas se deitaram nos trilhos da estrada de ferro para barrar a passagem dos trens. O entusiasmo e a coragem das operárias e dos operários conquistaram a simpatia da população e, finalmente, os trabalhadores obtiveram a vitória, conquistando o aumento de Cr$ 4,00. Foi um movimento que estimulou a autoconfiança e serviu de exemplo a toda uma geração de trabalhadores químicos.

Os primeiros anos da década de 60 foram marcados por grandes mobilizações políticas dos trabalhadores pelas reformas de base, contra as ameaças de golpe e o imperialismo e em solidariedade a Cuba. No ABC, foram realizados grandes comícios e mobilizações, que contaram com a presença de Jango, Arraes e outras personalidades políticas de então. Mas era uma mobilização sem bases sólidas, montada pelos organismos de cúpula, como o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), que centralizava e dirigia as lutas sindicais, mas nunca se propôs a acabar de vez com a estrutura corporativista e a organizar uma unidade sindical combativa e enraizada nas empresas.

A sociedade brasileira se polarizava entre uma saída golpista ou uma alternativa popular para a solução de seus problemas econômicos e sociais. A crise econômica foi capitalizada pela burguesia.

As ilusões das lideranças progressistas da época e a histeria autoritária e anticomunista da classe média abriram caminho para a saída reacionária. O movimento popular e sindical não teve condições políticas de evitar o golpe militar.

Com o advento do golpe, começou uma era de repressão ao movimento operário e popular que perdurou por mais de duas décadas. Mais de 2.700 sindicatos sofreram intervenção. Entre os inúmeros líderes atingidos pelo golpe, João de Deus, operário químico de Santo André, foi detido pela polícia e desapareceu.

O governo aperfeiçoou seu controle sobre a máquina sindical. Os sindicatos foram esvaziados de seu conteúdo classista e garantiam um número de legitimidade com a prática do assistencialismo.

Em 1967, após uma sequência de eleições sucessivamente invalidadas, Trajano José das Neves, em mais um episódio polêmico na vida sindical, foi preso e acusado de corrupção. Foram realizadas novas eleições e o vencedor foi Jaime Câmara Cajueiro, que assumiu a presidência do Sindicato.

Neste período, o movimento operário ficou na defensiva. As lutas eram isoladas e pontuais. Neste quadro de enfraquecimento generalizado dos sindicatos, a principal realização do então presidente foi a construção da atual sede própria.

Em 1976, assumiu Alcy Nogueira e, em 1979, Vicente Floriano da Silveira, o qual prosseguiu com a prática assistencialista durante sua gestão até 1982.

No final da década de 70, os trabalhadores do ABC imprimiram um novo impulso às suas lutas. A greve de 1978 na Scania, em São Bernardo do Campo, incentivou o surgimento de várias outras, como a realizada na Fontoura Wyeth (Kolynos). Foi uma convocação à dignidade do trabalhador, a reafirmação do valor e da importância da luta e da unidade de classe.

A ditadura militar perdeu o fôlego. Os trabalhadores em luta obrigaram o governo e os patrões a mudarem as regras do jogo. As oposições ganharam espaço e legitimidade.

Surgiu um líder no movimento sindical, Luiz Inácio Lula da Silva, que agitou o ABC e ganhou destaque nas páginas dos principais jornais do país. Os trabalhadores iniciaram uma série de greves em defesa da democracia.

A oposição se reforçou junto aos químicos e, finalmente, em 25 de outubro de 1982, a chapa “Renovação e Luta”, formada por Agenor Narciso, Domingos Lino, Edilmo de Oliveira Lima, Geraldo Ribeiro da Silva, João Ignácio Villas Boas, Joaquim Monterio de Holanda, José Drummond, Luiz Rodrigues dos Santos e Remigio Todeschini, entre outros, conquista a direção do Sindicato dos Químicos do ABC.

Com a eleição da Diretoria pró-CUT, em 1982, o Sindicato tornou-se uma entidade de trabalhadores cujo ideal passou a ser exclusivamente a defesa dos direitos da categoria.

Na época, a principal reivindicação da nova diretoria foi a de unificar a data base, em dezembro, para toda a categoria. Mas a direção teve que driblar a falta de dinheiro, a máquina emperrada e até a inexperiência.

Em 1983 nasce a CUT (Central Única dos Trabalhadores), instrumento fundamental para a unificação e mobilização de todos os trabalhadores do Brasil. Dois diretores do Sindicato, Agenor Narciso e José Drummond, fizeram parte da comissão pró-CUT e, durante um congresso de trabalhadores, em agosto de 1983, participam da fundação da Central.

Nos primeiros meses de existência, a CUT funcionou junto com o Sindicato dos Químicos, no espaço onde, atualmente, funciona a sede da Associação dos Aposentados Químicos.

Daí pra frente, este Sindicato abraçou várias causas, sempre lutando pela democracia e por uma vida mais digna para o trabalhador. Em 1984, o Sindicato participou ativamente das mobilizações pelas “Diretas Já”, ao mesmo tempo em que foram eleitas as primeiras comissões de fábrica.

No governo Sarney, com os primeiros planos econômicos para conter a inflação, a categoria intensificou as greves por melhores salários.

Na década de 90, quando o Governo Collor chegou ao fim antecipadamente devido ao processo de impeachment do presidente, os químicos continuaram lutando pela redução de jornada sem diminuição do salário, por mais empregos e saúde para o trabalhador, em um contínuo processo de avanços e conquistas, agora sob a presidência de Remigio Todeschini.

Quando Sérgio Novais, diretor do Sindicato dos Químicos do ABC desde 1991, foi eleito presidente do Sindicato dos Químicos do ABC em 1996 (depois foi reeleito com mandato até 2003), o país era governado por Fernando Henrique Cardoso, criando um novo cenário de atuação para o Sindicato dos Químicos do ABC.

No ano de 2003, quando a Nação passou a ser governada por Luiz Inácio Lula da Silva, a categoria química optou pela continuidade, elegendo a Chapa 1 “Pela Democracia, Organização e Luta!”, liderada por Paulo Antônio Lage, antigo diretor do Sindicato que, em seu quinto mandato e com apenas 36 anos de idade, passou a ser o Presidente.

Na eleição para renovação da diretoria de 2006, a categoria química reafirmou a confiança na direção da entidade e reelegeu Paulo Lage para mais um mandato, com 95,36% dos votos válidos.

Desde 1982, quando os químicos reconquistaram a direção do sindicato, as ações realizadas na porta das fábricas e os avanços obtidos com a constante luta por melhores condições de trabalho e salário retratam a marca deixada pela atuação dos “Químicos do ABC”, a incansável busca por uma maior organização sindical no local de trabalho, pelo fortalecimento da CUT, pela participação nos fóruns regionais, pelos avanços nas áreas de saúde do trabalhador e do meio ambiente, pela formação sindical e pela qualificação profissional.